Certo
dia ele acordou e ela o tinha deixado... Olhou pros lados e tudo estava em tons
de cinza. Levantou-se, e seguiu arrastando-se em direção ao banheiro. A água
corria pelo seu corpo e só, não fazia diferença. O cheiro do sabonete havia
sumido, e seu reflexo havia sumido do espelho. Pegou qualquer roupa (as cores
sumiram), vestiu-se e tomou seu café sem nem saber o que comia, pois nada tinha
gosto nem cheiro. Ao passar pela porta foi golpeado pela sequidão dos raios do
sol que estava... Cinza? Sim o sol também perdera a cor.
Buzinas e jornaleiros anunciando as manchetes faziam parte do cenário da
cidade, porém nada lhe interessava (ou nada queria ouvir), as noticias no rádio
não faziam sentido... Seus olhos olhavam em uma única direção. O dia
passou, morno, nada parecia animá-lo. E os dias foram passando, e os meses
foram passando, e os anos foram passando e nada lhe interessava, não fazia
planos, não olhava adiante, apenas vivia seus dias acinzentados um a um...
Sempre do mesmo jeito.
Conheceu pessoas, visitou lugares, mas a única coisa que ainda lhe tirava do
seu estado de inércia era a lembrança dela, a vaga lembrança daqueles dias em
que viveu a seu lado... Dos longos passeios de mãos dadas. Dos planos e
projetos que fizera naqueles anos em que esteve com ela. Varias vezes teve a
sensação de sentir sua presença, mas em seguida a frigidez de sua alma lhe
fazia voltar a si. Era todo razão! Não ousava! Vivia dias minuciosamente
reproduzidos.
Certo dia acordou, olhou para os lados e nada encontrou como de costume,
levantou-se e seguiu o mesmo ritual de todos os dias. Estava pronto para mais
um dia... Tanto faz, pensou. Abriu a porta, estava de cabeça baixa, mas
percebeu que alguém o observava, levantou a cabeça e uma lagrima escorreu em
seu rosto ajoelhou-se, parecia não acreditar... Chorou como nunca. Tudo havia
ganhado cor, cheiro e brilho novamente... Dali a pouco limpou os olhos cheios
de lágrimas, levantou-se olhou para ela ali parada a sua frente abraçou-a –
Onde esteve todo esse tempo? Porque me abandonou? Perguntou. Eu não te
abandonei, foi você que me perdeu! Respondeu ela. Quem é ela? A Esperança.
Sem esperança nada mais vale a pena, tudo perde o sabor e o brilho... Sem
esperança o mundo fica sem cor e a vida sem sentido! Nunca perca a esperança e
tudo será possível, por mais impossível que pareça.
Em dias como os que vivemos a esperança tem se tornado ainda mais importante.
Como levantar e continuar sem ela? O mundo sofre... Não me refiro apenas as
tragédias no Japão, mas também as que aconteceram e acontecem no Brasil, no
Haiti, na Austrália e em tantos outros lugares do mundo. A natureza não é
tirana! Ela não aparece apenas pra mostrar sua força a troco de nada. Tudo o
que vem acontecendo nada mais é do que a lei da ação e reação... Todas as ações
do homem estão sendo devolvidas na mesma intensidade! Ter esperança e continuar
lutando no sentido de ao menos minimizar os efeitos das nossas próprias ações,
é tudo que nos resta! Ter esperança de que vamos conseguir alcançar a
sustentabilidade, que vamos acabar com a exploração do homem pelo homem e que
vamos deixar de submeter nossos iguais a fome e ao descaso em busca de acumulo
de riquezas... Volto a perguntar: quando tudo acabar, o que é que nós vamos
fazer com o dinheiro? Construir casas de dinheiro? Comer dinheiro? Respirar
dinheiro? Ou simplesmente pegar uma espaçonave e voar para marte?
Tenhamos esperança de que um dia em algum lugar possamos ver o fim de tudo
isso... Tenhamos esperança de que um dia poderemos finalmente viver em paz!
Di
Alencar